Sobre Transtornos Alimentares e a consciência corporal
Em vista de um projeto de pesquisa, estou fazendo uma revisão de literatura científica sobre transtornos alimentares, compartilho alguns dados interessantes:
Sentimentos
de inadequação, consciência interna dos sinais de fome e saciedade alterada, impulsividade e insegurança social são fatores que
estão na etiologia de transtornos alimentares. Talvez
por isso, mulheres com altos graus de alexitimia e menor habilidade de identificar
e descrever sentimentos em relação, comem tanto quanto, ou até mais, em
condições estressantes: um comportamento mal adaptado que contraria uma
resposta biológica natural do organismo de diminuir a forme frente ao estresse.
O que parece ser um fator importante na etiologia de transtornos alimentares é
um déficit na apreensão cinestésica do próprio corpo, ou seja, a percepção direta de sensações corporais internas enquanto base mais primitiva de autopercepção.
Essa baixa autopercepção corporal interna gera confusão e dificuldade em reconhecer, se conscientizar e aceitar sinais internos do corpo, o que pode levar o indivíduo a um não discernimento entre fome e ansiedade, por exemplo.
Talvez por isso, mulheres com altos graus de alexitimia (dificuldade em descrever emoções, sentimentos e sensações corporais), comem tanto quanto, ou até mais, em condições estressantes: um comportamento mal adaptado que contraria uma resposta biológica natural do organismo de diminuir a forme frente ao estresse.
As pesquisas ainda ressaltam que pessoas com transtorno alimentar apresentam maior proporção de vínculo do tipo inseguro: existe maior dificuldade em experimentar o próprio corpo e as suas sensações internas viscerais, bem como emocionais e portanto uma capacidade reduzida de sentir-se internamente prejudica a relação interpessoal pela dificuldade em se identificar e descrever os sentimentos.
Outros dados, comprovam ainda a influência dos vínculos paterno e materno no estabelecimento dos transtornos alimentares: um vínculo com os pais de pouco cuidado poderia influenciar a habilidade da filha em reconhecer os seus sentimentos e emoções e de distingui-los de sensações fisiológicas e ainda provocar uma tendência de ignorar as próprias necessidades fisiológicas, sentimentos e emoções.
O desenvolvimento de uma consciência corporal interna (interocepção) adequada seria, portanto, uma função indispensável da relação pais e filha ao longo da sua maturação bio e psicológica.
Ou seja, pais mais fragilizados que não conseguem oferecer um cuidado que permita ao bebê reconhecer o que está sentindo e, com o tempo, a regular as próprias necessidades com empatia e carinho, podem deixar o terreno fértil para a emergência de um transtorno alimentar no transcorrer da vida.
Referências:
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