Sobre Transtornos Alimentares e a consciência corporal

15/10/2018

Em vista de um projeto de pesquisa, estou fazendo uma revisão de literatura científica sobre transtornos alimentares, compartilho alguns dados interessantes:

Sentimentos de inadequação, consciência interna dos sinais de fome e saciedade alterada, impulsividade e insegurança social são fatores que estão na etiologia de transtornos alimentares. Talvez por isso, mulheres com altos graus de alexitimia e menor habilidade de identificar e descrever sentimentos em relação, comem tanto quanto, ou até mais, em condições estressantes: um comportamento mal adaptado que contraria uma resposta biológica natural do organismo de diminuir a forme frente ao estresse.

O que parece ser um fator importante na etiologia de transtornos alimentares é

um déficit na apreensão cinestésica do próprio corpo, ou seja, a percepção direta de sensações corporais internas enquanto base mais primitiva de autopercepção.

Essa baixa autopercepção corporal interna gera confusão e dificuldade em reconhecer, se conscientizar e aceitar sinais internos do corpo, o que pode levar o indivíduo a um não discernimento entre fome e ansiedade, por exemplo.

Talvez por isso, mulheres com altos graus de alexitimia (dificuldade em descrever emoções, sentimentos e sensações corporais), comem tanto quanto, ou até mais, em condições estressantes: um comportamento mal adaptado que contraria uma resposta biológica natural do organismo de diminuir a forme frente ao estresse.  

As pesquisas ainda ressaltam que pessoas com transtorno alimentar apresentam maior proporção de vínculo do tipo inseguro: existe maior dificuldade em experimentar o próprio corpo e as suas sensações internas viscerais, bem como emocionais e portanto uma capacidade reduzida de sentir-se internamente prejudica a relação interpessoal pela dificuldade em se identificar e descrever os sentimentos. 

Outros dados, comprovam ainda a influência dos vínculos paterno e materno no estabelecimento dos transtornos alimentares: um vínculo com os pais de pouco cuidado poderia influenciar a habilidade da filha em reconhecer os seus sentimentos e emoções e de distingui-los de sensações fisiológicas e ainda provocar uma tendência de ignorar as próprias necessidades fisiológicas, sentimentos e emoções. 

O desenvolvimento de uma consciência corporal interna (interocepção) adequada seria, portanto, uma função indispensável da relação pais e filha ao longo da sua maturação bio e psicológica.

Ou seja, pais mais fragilizados que não conseguem oferecer um cuidado que permita ao bebê reconhecer o que está sentindo e, com o tempo, a regular as próprias necessidades com empatia e carinho, podem deixar o terreno fértil para a emergência de um transtorno alimentar no transcorrer da vida. 

Referências:

 Monteleone, A. M., Castellini, G., Ricca, V., Volpe, U., De Riso, F., Nigro, M., ... Maj, M. (2017). Embodiment Mediates the Relationship between Avoidant Attachment and Eating Disorder Psychopathology. European Eating Disorders Review : The Journal of the Eating Disorders Association, 25(6), 461-468. https://doi.org/10.1002/erv.2536

Fassino, S., Amianto, F., Rocca, G., & Daga, G. A. (n.d.). Parental bonding and eating psychopathology in bulimia nervosa: personality traits as possible mediators. Epidemiologia e Psichiatria Sociale, 19(3), 214-222. Retrieved from https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21261217

Van Strien, T., & Ouwens, M. A. (2007). Effects of distress, alexithymia and impulsivity on eating. Eating Behaviors, 8(2), 251-257. https://doi.org/10.1016/j.eatbeh.2006.06.004


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