Sobre transtornos alimentares e mindful eating, ou comer conectado

23/10/2018

A literatura científica vem apresentando evidências nas últimas décadas de que o que parece ser um fator importante na etiologia de transtornos alimentares é um déficit na apreensão cinestésica do próprio corpo, ou seja, a percepção direta de sensações corporais internas enquanto base mais primitiva de autopercepção.

Essa baixa consciência corporal e percepção de fome e saciedade seriam fruto de uma maternagem pouco elucidativa sobre o funcionamento do próprio corpo e das emoções da criança. Isso pode dificultar a distinção entre sensações fisiológicas e emoções, levando a uma confusão entre ansiedade e fome por exemplo.

Alguns artigos ligam ainda os aspectos de desatenção de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) com comer demais e sentir fome depois da refeição, em função da distração o cérebro não registra a ingestão do alimento. Ou seja, quem sofre de TDAH corre riscos de desenvolver algum tipo de transtorno alimentar.

Mas esse fenômeno de não registro pelo cérebro do alimento ingerido pode ocorrer em situações corriqueiras com qualquer um: por exemplo, quando se come assistindo tv, ou mexendo no celular.

Comer de olhos fechados, nesse sentido, pode ajudar a se concentrar nas sensações internas do corpo e a se guiar mais pela fome do que pelos sentidos exteroceptivos como a visão e o cheiro de um alimento delicioso.

Portanto, na próxima refeição que fizer, experimente comer calmamente e se possível feche os olhos para apreciar a comida e registrar todas as sensações corporais envolvidas no processo de mastigação e ingestão do alimento: a fome, o paladar, a contração e expansão da mandíbula, a deglutição e a peristalse. Perceba se isso muda a sua forma de comer, se você come mais devagar, se mastiga com mais ou menos força, se a sua respiração fica mais profunda e procure registrar mentalmente essas sensações todas...

Todas essas micro e sutis alterações e sinalizações fisiológicas compõem o macro ato de comer e quando você toma o tempo de se concentrar um pouco em cada uma delas, você se familiariza mais com o funcionamento do seu próprio corpo e torna esse, assim como qualquer ato sobre o qual você escolher aprofundar a sua percepção cenestésica, mais pessoal e passível de interferência. 

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